quinta-feira, 17 de junho de 2010

A morte de D. Barthor


Ele abre os olhos, sente-se rodeado de longas dobras, livra-se delas, apalpa com as mãos tremulas a madeira que o rodeia, sobre sua cabeça, ao seu redor, em todo lugar... Em todo lugar.
Ele tateia a si mesmo e sente-se nu. Oh! É um sonho, um sonho horrível, infernal, um pesadelo opressivo, que afasta qualquer idéia de eternidade, pois ele quer é se agarrar na vida!
 Mas a eternidade esta aqui, aqui pobre face deitada condigo, em teu leito de núpcias, atraindo-te para ele, rindo atrás de tua cabeça com o esgar de demônio.
Oh não! É impossível! Quis adormecer novamente. Esquecer tudo isso, atordoar-se de ante a realidade, apagar do pensamento essa massa de chumbo que pesava na sua cabeça.
 No entanto seu 1° pavor foi mudo e calmo. Oh! Não- Dizia ele querendo iludir-se. Morrer assim num túmulo, morrer de desespero e de fome - Ele tocava tudo que o rodeava. Mas estou louco!Essa madeira, bem, é a minha cama, este tecido? Meu lençol... Inferno! Um túmulo. Uma mortalha - e soltou uma daquelas risadas amargas que teriam escoado bem alto se não estivesse em um túmulo.
Morrer! Morrer assim, sem socorro, sem piedade? Oh não! Sairei deste inferno, sairei desse túmulo.
 Chorava de raiva, arrancava os cabelos, xingava a vida, ele tão cheio de força e saúde! Quantas lágrimas derramou sobre suas mãos! Quantos gritos soltou em seu túmulo! Quantos ataques de ódio teve em seu caixão! Pegou sua mortalha, rasgou-a com suas unhas, fizera em pedaços com os dentes.
Finalmente parou com seu desespero, estendeu-se na tábua e pensou em Deus.
Um raio de esperança veio brilhas em seu túmulo. Pensou em sua alma no qual duvidava há muito tempo, acreditou em Deus, contra quem blasfemava há pouco. Aguçou os ouvidos, ouviu, sobre sua cabeça, um barulho fraco e leve, parecia remexer a terra, e o som aumentava, sorrio de felicidade, juntou as mãos e rezou a Deus: Oh! Obrigado, obrigado, devolveu-me a vida, não morrerei neste túmulo frio!
 Ouviu nitidamente passos de homens sobre sua cabeça e pensou – Oh! Vieram me libertar, com certeza alguma alma caridosa que percebeu que nesse tumulo existe vida, existe um homem em vês de um cadáver.
Os passos se aproximaram depois se afastaram; e tudo ficou calmo novamente.
Era o coveiro que vinha buscar sua picareta que tinha esquecido, e como estava chovendo, temia que enferrujasse. O mesmo viu um cão sujo, coberto de lama que se deitava, cheirava e cavava a terra desesperada mente, o pobre cachorro era Fox, o animal de estimação da aquele pobre homem que se encontrava a sete palmos do chão. Que todas as noites deitava junto com ele, ao lado da cama, “Fox? Fox? Vem cá garoto! Venha deitar-se ao meu lado”. Dizia seu dono. 
O homem se chamava D. Barthor, um homem poderoso e muito invejado por todos seus familiares, por ser muito avarento todos o desejavam-lhe a morte.
Numa noite fria, com febre D. Barthor se encontrava, e com um plano cruel seus familiares resolveram dar um fim na vida do pobre homem que já de tanto frio havia desmaiado.
 Como um funeral particular, ninguém queria a presença de pessoas que poderiam suspeitar do plano. Em quantos todos encenavam choros, seu leal Fox agonizava de dor por perder seu dono que tanto o queria bem!
Sem desconfiar de nada, neste momento D. Barthor pôr-se a rir de desespero por não ouvir, mas os passos, então por sua antiga crença não o salvou, resolveram chamar pelas profundezas. O inferno veio ao seu socorro, e lhe deu a blasfêmia.
 Primeiro ele renegou a Deus, depois ele o insultou, depois sorriu e disse – Ora! Ode está o criador de tudo? Capaz de devolver a vida? Se existe mesmo, liberta-me!
Ele arrancava os cabelos e dilacerava o rosto com as unhas – pensa que eu vou rezar na minha hora derradeira? É a cabeça de um morto que vão encontrar em meu lugar.
Seus dentes batiam como os do demônio quando foi vencido por Cisto, estava furioso e pulava, rolava em seu túmulo e amaldiçoava Deus com gritos na boca e o desespero na alam – Onde está Deus? Que prazer tem em me ver sofrer? Porque não quer que eu creia em ti?
Então ele parou assustado com sua blasfêmia. Teve medo e tremeu. A terra poderia ceder e ele ainda tinha ar suficiente para respirar por algum tempo. Ria encolhido em seu túmulo, o rosto voltado para o céu, que pra ele eram tabuas do caixão!
 Ele ouvia apenas os latidos do seu cão que chorava sua morte, ou que adivinhava sua desgraça – pobre amigo disse ele, derramando uma lágrima de ternura, uma única que o aliviou.
Estava cansado e com fome, e nada pra por entre os dentes! Finalmente pôs-se de bruços, curvou-se como uma bola, fez força para quebrar seu caixão. E, inclinado fez força, sacudidas de forma convulsiva, para fazer dobrara aquela tabua dura como ferro.
 Finalmente, com um ultimo esforço de raiva, ele o quebrou. Ao ver o túmulo entre aberto, ou melhor, sentindo seu caixão ceder sob suas costas, um riso vitorioso explodiu em sua boca, acreditou estar livre. Mas a terra estava lá com sete pés de altura, a terra que iria esmagá-lo se fizesse o mínimo movimento, pois sustentada até então pelas tabuas do caixão, não podia mais se manter em sua posição primeira, e ao menor deslocamento das tabuas, cairia.
Permaneceu longamente imóvel: por fim quis tentar um ultimo gesto que poderia mata-lo ou salva-lo, quis levantar-se bruscamente e atravessá-la com a cabeça. O desespero o levou a loucura.
Levantou-se. Mas a tábua do caixão inclinou-se sobre sua cabeça.
O bom coveiro aborrecido com os latidos melancólicos do cão resolveu ver o que lá havia de tão interessante, cavou a terra na esperança de encontrara algo, um tesouro talvez...
Ora! Algo o espantou, encontrou um caixão quebrado, levantou então as tabuas, eis o que ele viu e o que contou mais tarde fazendo-se passar por destemido.
“O cadáver estava de bruços, sua mortalha rasgada, e sua cabeça e seu braço direito estava sob seu peito, quando o virei com minha pá, vi que tinha cabelos em sua mão esquerda, ele havia devorado seu ante braço, seu rosto fazia uma careta que deu medo...e não é por menos, seus olhos estavam esbugalhados, os nervos de seu pescoço estavam rígidos e tensos, vi dentes brancos como marfim, pois seus lábios verdes, levantados pelo canto, mostrava sua gengiva como se estivesse rindo ao morrer”.
 Quanto a Fox, deixou o cemitério, foi correr nas colinas, e todas as noites ele caminhava ate o cemitério, agonizando! Pois quando a neblina se estendia no chão, ele via um vulto caminhando em direção ao túmulo que o chamava para junto dele “Fox? Fox? Vem cá garoto! Venha deitar-se ao meu lado”.


Enedina

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